Quando se realizam trocas um a um, pessoa a pessoa, significa que se fazem, igualmente, trocas produto a produto, bem por bem. Isso, por sua vez, diminui o potencial de troca, uma vez que é complicado que o valor (quer monetário, quer funcional ou de agradabilidade) do que os dois intervenientes têm para trocar seja equivalente ou percebido como equivalente por ambos.
Por outro lado, no Paradigma de Trocas Massivas (temáticas) que desenvolvemos, o primeiro passo é por em comum aquilo que cada um traz. Seja roupa, arrumada por tamanhos e géneros, sejam produtos hortícolas ou de confecção caseira própria, como artesanato ou doces, começamos sempre por juntar o que todos e cada um trouxeram. Por vezes apresentamos os produtos, noutras apresentamos apenas as pessoas. Ao faze-lo, não só quem ainda não se conhece se pode aproximar e todos saem do anonimato como se constrói um clima afectivo durante o qual se pode perceber as necessidades e preferências de cada um: se são crianças, quantas há que vistam certo tamanho de roupa; se adultos numa troca de hortícolas, que vegetais estão com vontade de experimentar, etc. Assim, todos ficam responsáveis – e isso é explicitado de forma amorosa – por tornar a troca o mais satisfatória possível para todos. Cada individuo procura peças que lhe agradam, mas ao encontrar algo especial pensa também nos outros – quem gostara daquele item, a quem servira tal camisola? As meninas reúnem-se com pilhas de roupa com que, juntas na casa de banho, ensaiam visuais. Quando diversos participantes querem batatas da quinta, descobrem que alguém teve o cuidado de as dividir em três pacotes iguais para que mais pessoas pudessem beneficiar delas. Todos nos sentimos gratos, pelo tanto que nos é oferecido e surpreendidos pela abundancia que fomos capazes de gerar em conjunto.
Porque a abundancia é o resultado mas também o ponto de partida destas trocas massivas, as mesmas são temáticas. Duas vezes por ano, na mudança de Estação, realizamos as grandes trocas de roupa. Cada participante traz roupa, calçado e acessórios que tenham deixado de lhe servir ou que não use há bastante tempo, ou mesmo de que tenha deixado de gostar, mas que esteja limpo e em boas condições. As crianças e adolescentes trazem imensas quantidades de roupa, renovando uma grande parte do seu guarda-roupa e possibilitando o mesmo aos mais novos ou mais pequenos. Mesmo os adultos, sobretudo as senhoras, descobrem muitas coisas paradas no fundo do armário que fazem as delícias de uma amiga ou de alguém que até então lhe era desconhecido. E essa capacidade de criarmos felicidade no outro, de proporcionarmos prazer sem custos e de uma forma imprevisível, sabe muito bem. Depois de todos os participantes estarem servidos, com a sua dose de necessidade e extravagância, sobra mesmo assim muito que encaminhamos para famílias em dificuldades.
Ao realizarmos estas trocas massivas, em que se troca com a riqueza do grupo e não em pares, distanciamo-nos do modelo de troca por troca comum e exercemos a nossa capacidade de dar com o coração aberto, respeitando-nos (ninguém tem de levar para a troca excepto o que queira dar para a mesma), mas também a não contar, não calcular - preços nem números de peças, como nas trocas directas por dinheiro. Estamos a dar e a receber a todos e com todos. E ao mesmo tempo que aprendemos a dar sem limite e sem fazer contas, aprendemos tb a não sermos competidores, a partilhar, a trabalhar de forma cooperativa e a sairmos de nos para perceber as necessidades dos outros. Em conjunto temos em mente “qual a melhor maneira de lidar com este item?”. Antes de terminarmos, conversamos sempre brevemente sobre como foi a troca para cada um, se gostou, se havia algo que precisasse e continue a precisar, etc. Todos são os guardiões de cada um, de modo que a rapariga mais alta que só deu roupa sem receber tenha peças especiais à sua espera na troca seguinte.
Todos estes nos parecem valores importantes, a por em pratica em gestos pequenos cujo valor não está em parâmetros comuns mas precisamente na qualidade da relação e nos valores que lhe subjazem e dão forma as acções.
Propomos este paradigma tb nas escolas com algumas variações, por exemplo, a do caixote surpresa: a turma 8 a da escola x deposita num caixote todas as roupas giras ou básicas em bom estado que os elementos que a compõem já não usam ou usam pouco. Outras 3 turmas de diferentes escolas fazem o mesmo. Cada uma da e recebe um caixote, que os elementos da turma deverão distribuir entres si de modo a gerar o máximo de satisfação geral.