Esses professores pensam, então, em todas as coisas interessantes que gostariam de fazer pedagogicamente, lembram-se que bem esperavam poder individualizar mais o ensino e deitam mãos à obra! Defendendo a escola (e o ensino, que pode tomar muitas formas) livre e gratuito para os alunos, aproveitam o facto destes e das suas famílias terem agora mais liberdade de escolha e desenvolvem projectos educativos independentes, sustentáveis, de escala menor em números mas com outro tipo de ambição.
Estas novas “escolas” recuperam edifícios subaproveitados como os das antigas escolas municipais, celeiros, bibliotecas e edifícios públicos que foram transferidos para outro lado. Algumas ocupam espaços deixados vagos por extintos Governos Civis, Juntas de Freguesia e afins. Estas pessoas compreenderam muito bem a ideia de que uma escola não é um edifício, de modo que, sendo o projecto pedagógico muito mais importante, e, realizando pequenos ajustes naqueles edifícios, caminham agora com muito poucos encargos financeiros além dos salários e das outras despesas correntes porque, ao contrário do Estado, não têm elefantes brancos para sustentar. Assim, estas novas escolas remuneram com justiça os seus funcionários e conseguem manter-se dentro do valor atribuído pelo Estado a cada aluno ao mesmo tempo que cultivam uma lógica de pequenas turmas ou pequenos grupos de aprendizes.
É claro que os professores tiveram de ser um bocado activistas e darem a volta à legislação para perceberem como criar projectos educativos que não equivalessem a projectos de construção civil. Para isso, foram ver o que é que se andava a escrever e a estudar pelos teóricos da liberdade de educação e da escolha da escola, além de conhecerem muito bem a Constituição e tudo o mais que se lhes afigurou importante. E não foi difícil aliarem-se aos advogados, pois estes também têm filhos. Foram muito rápidos nesta fase, pois sabiam que era urgente constituir alternativas educativas antes que grandes grupos económicos se apoderassem da “educação” naquele país, o que além de ser uma tragédia a vários níveis (para a democracia, para o estatuto de professores e alunos, entre outros), sê-lo-ia da forma mais perversa ao nível dos valores, sobretudo os da equidade, da liberdade de pensamento, da diversidade humana no geral e da profundidade e identidade culturais.
Foi assim que alunos, aprendizes, se viram subitamente a poder escolher entre escolas tradicionais e escolas democráticas. Surgiram escolas que reinventavam a Escola da Ponte, projectos Educativos que repescaram os centros de aprendizagem de Agostinho da Silva, escolas com pedagogias específicas, Waldorfs, Montessoris e outras. Adaptaram-se Studio Schools e outras maravilhosas formas de aprender. Famílias e alunos estavam maravilhados – cada um podia experimentar outras formas de aprender e de estar que o faziam mais feliz, que lhe eram mais fáceis, mais inerentes, mais proveitosas. Chegaram-se à frente os Agentes Culturais, a infinidade de actores, pintores, dançarinos bem como as associações e projectos que pululavam nesse pais criativo que agora saía do seu atrofio. E esses aspectos culturais que andavam ao abandono tornaram-se centrais nos novos projectos educativos.
E assim, não só a “escola” mas todo esse país avançou, pulou, reencontrou sonhos do Futuro!